Marcada para hoje, a exumação dos
restos mortais do ex-presidente João Goulart tem o sentido simbólico de
acerto de contas com a História, mas está cercada de preocupante
espetacularização e de interesses políticos que podem comprometer a
busca da verdade. É importante que não apenas os familiares, mas os
brasileiros de maneira geral, possam esclarecer a fundo as
circunstâncias da morte, ocorrida na Argentina em 1976, quando a
realidade dos fatos estava sufocada pelo regime ditatorial. Ainda assim,
é preciso que a investigação sobre a suspeita de envenenamento,
reforçada nos últimos anos, se restrinja estritamente a parâmetros
técnicos. O episódio não pode se transformar em palanque eleitoral, nem
se prestar a outros interesses subalternos.
Quase meio século depois de sua deposição e às vésperas da lembrança dos 37 anos de sua morte, em 6 de dezembro de 1976, o país não tem, realmente, como se conformar com fatos como o de não haver sido realizada autópsia na época. E, muito menos, de no atestado de óbito constar apenas o termo “doença” como causa mortis. A particularidade de, mesmo no exílio, o político que comandou o país entre 1961 e 1964 continuar sendo monitorado e perseguido por integrantes da chamada Operação Condor – a aliança entre regimes militares de países latino-americanos – faz com que não possam ser aceitas quaisquer dúvidas em relação ao caso.
Da mesma forma, o país que conseguiu deixar para trás o obscurantismo de um regime de exceção e hoje se orgulha dos avanços democráticos tem o direito de prestar homenagens fúnebres como chefe de Estado ao único presidente da República morto no exílio. Nesse sentido, é compreensível que o corpo a ser retirado do jazigo em São Borja (RS) seja recebido amanhã com honras militares pela presidente Dilma Rousseff, no Aeroporto Internacional de Brasília, antes de seguir para as perícias.
O esforço pela busca das reais causas da morte de Jango e as homenagens póstumas como chefe de Estado que o país lhe deve precisam pairar acima de interesses políticos ou pessoais. Uma operação dessa complexidade, que envolve custo financeiro, que desperta diferentes reações em relação ao contexto da época e o de hoje, não pode se prestar apenas para lançar mais dúvidas ou para acirrar divisões, muito menos para propiciar dividendos políticos ou financeiros. Só há sentido em tudo isso se o objetivo for o de lançar novas luzes sobre um período da história recente do país ainda hoje envolto em brumas.
Quase meio século depois de sua deposição e às vésperas da lembrança dos 37 anos de sua morte, em 6 de dezembro de 1976, o país não tem, realmente, como se conformar com fatos como o de não haver sido realizada autópsia na época. E, muito menos, de no atestado de óbito constar apenas o termo “doença” como causa mortis. A particularidade de, mesmo no exílio, o político que comandou o país entre 1961 e 1964 continuar sendo monitorado e perseguido por integrantes da chamada Operação Condor – a aliança entre regimes militares de países latino-americanos – faz com que não possam ser aceitas quaisquer dúvidas em relação ao caso.
Da mesma forma, o país que conseguiu deixar para trás o obscurantismo de um regime de exceção e hoje se orgulha dos avanços democráticos tem o direito de prestar homenagens fúnebres como chefe de Estado ao único presidente da República morto no exílio. Nesse sentido, é compreensível que o corpo a ser retirado do jazigo em São Borja (RS) seja recebido amanhã com honras militares pela presidente Dilma Rousseff, no Aeroporto Internacional de Brasília, antes de seguir para as perícias.
O esforço pela busca das reais causas da morte de Jango e as homenagens póstumas como chefe de Estado que o país lhe deve precisam pairar acima de interesses políticos ou pessoais. Uma operação dessa complexidade, que envolve custo financeiro, que desperta diferentes reações em relação ao contexto da época e o de hoje, não pode se prestar apenas para lançar mais dúvidas ou para acirrar divisões, muito menos para propiciar dividendos políticos ou financeiros. Só há sentido em tudo isso se o objetivo for o de lançar novas luzes sobre um período da história recente do país ainda hoje envolto em brumas.
Diário de Cuiabá