Lembrar
traz saudades, incita o ego e perfuma os elos que nos ligam ao passado. A
efervescência da imaginação comanda a busca dos belos dias do risonho mês de mês
maio da Palma de outrora. Mês das águas findas, dos animados casamentos, de
novenas e oferecimento de flores à excelsa Vigem Maria. Jubiloso, a cada dia, numa
cadência monástica, ao sentir a claridade do último raio do ocaso, o sino
tocava anunciando os ofícios religiosos. Era a hora da Ave Maria!
A noite chegava
com a movimentação litúrgica na Matriz. Novenas nas casas, altares com muita
arte, quase sempre confeccionados pela minha mãe Anisete Menezes, para receber
a Senhora Peregrina. O rito sacro se estendia até o dia 31, quando na praça, ao
som da banda e o pipocar de fogos, havia a solenidade de coroação da imagem de
Nossa Senhora do Rosário. No início dos anos de 1960, esta imagem foi substituída
pela de Nossa Senhora de Fátima ofertada à paróquia por Dona Graça Fernandes.
Eram momentos de fé, êxtase e esplendor vividos pela comunidade palmense. Entre
1954 e 1964, além da direção do pároco Padre Benedito Albuquerque, a
organização e os cânticos tinham a participação das filhas de Maria: Anita
Araújo, Sinhazinha Aguiar e Terezinha Albuquerque.
No primeiro
domingo de maio, a cidade acordava com uma vibrante alvorada. Os congregados
marianos saiam em marcha pelas ruas, tendo à frente a bandeira mariana
empunhada pelo senhor Luiz Carvalho Sobrinho para comemorar o Dia Mundial do
Congregado Mariano. Era uma elegante demonstração pública de religiosidade.
Mas o
mês de maio tinha outra atração, a festa do dia das mães. Na simplicidade
daquele tempo, em cada lar, uma rainha era festejada por sua prole. As escolas
lembravam a data e a garotada improvisava uma singela manifestação.
Olhos
fitos no calendário, esse mês era esperado por todos. Além do início da
colheita, funcionava, também, como marco para a abertura da contagem regressiva
para a tradicional festa de setembro, período de homenagens à padroeira da família
coreauense. Esta completava o grupo de motivações que maio oferecia aos
coreauenses de todas as idades.
Quanta
expectativa vivia nossa gente ao sonhar com a chegada de maio. Como era gostosa
essa temporada que o quinto mês do ano proporcionava aos habitantes de Coreaú,
em especial a meninada. Em tudo suscitava alegria. A festa matinal nas águas
abundantes do nosso rio, respeitável protagonista de nossa história, enchia de
garbo a criançada.
Encerramos,
aqui, este turno nostálgico. Que outros
exprimam suas lembranças em textos ricos de recordações para que possamos
resgatar toda a pompa do festivo mês de maio da Coreaú de ontem.
Fortaleza,
24 de maio de 2012
Leonardo
Pildas