Mauricio Dias
6 de agosto de 2011 às 10:00h
Nas últimas semanas, a oposição, orientada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, pensou ter encontrado o remédio certo para confundir a opinião pública, rachar a base governista e desestabilizar a presidenta Dilma.
Por que FHC? Por ter ditado a palavra de ordem ao pregar a adesão da oposição à onda de demissões contra aliados do governo acusados de corrupção na sequência da intervenção feita no Ministério dos Transportes/Dnit. O ex-presidente conclamou a oposição a apoiar a faxina que Dilma supostamente promoveria ao longo de uma cruzada pelas virtudes.
Dilma chegou a garantir que a faxina não tinha “limites”.
Esse remédio sugerido pela oposição seria um veneno para o governo.
A equação é simples assim: a base oposicionista empurraria Dilma contra a base governista, levando adiante denúncias sem provas.
Até mesmo as pesquisas, que apontavam a aprovação da sociedade, tornam-se perigosas aliadas neste momento.
A sociedade está sempre disposta a apoiar as ações de faxina na administração pública. Esse foi um condimento forte, por exemplo, no processo de renúncia de Jânio Quadros, em 1961, e também uma das razões que levaram Fernando Collor, o enaltecido “caçador de marajás”, ao impeachment, em 1992.
O “golpe moralista” é identificável por muito barulho por nada. E sempre promove a inversão de um dos princípios básicos da justiça democrática: a inversão do ônus da prova passa do acusador ao acusado.
A corrupção deve ser punida como qualquer dos outros crimes previstos nos códigos penais. Neles, porém, há o rito que começa com a denúncia e se sustenta com provas. O crime é julgado e o criminoso punido na forma da lei.
Mas não é isso o que ocorre com a denúncia, vazia de fatos, feita por Oscar Jucá Neto. Após ter sido demitido da diretoria financeira da Conab, ele desferiu ataques contra o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, do PMDB, sem apresentar provas, como admitiu a própria revista que veiculou a entrevista. Rossi é ligado ao vice-presidente, Michel Temer.
Tudo indica, no entanto, que a presidenta percebeu a cilada armada para ela.
Na terça-feira 2, durante lançamento do programa da nova política industrial do governo, no Palácio do Planalto, Dilma deu sinais de que vai adotar a dose certa e transformar o veneno da oposição em remédio: “O governo não irá abraçar nenhum caso de corrupção, mas o governo também não se pautará por medidas midiáticas no combate à corrupção”.
Essa bandeira os oposicionistas empunham, sem sucesso, desde o “mensalão” (2005), um nome fantasia, bem bolado, dada à prática de arrecadação ilícita de dinheiro para financiar a campanha política de alguns e para enriquecer outros.
A corrupção é uma epidemia mundial. Por aqui, tanto no “Brasil de cima” quanto no “Brasil de baixo”, valendo-me da expressão cunhada pelo poeta cearense Patativa do Assaré, há o sentimento de que o mundo político é só corrupção e contamina todos os níveis de poder: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Talvez seja. Afinal, essa semente germina na própria sociedade. É regada por corruptos e corruptores. Daí se concluir inversamente que em uma sociedade virtuosa não brotaria um mundo político corrompido.
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