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16/06/2011

LEITE DE BÚFALA

   *Geraldo Duarte

Em Fortaleza, até a década de sessenta, século passado, existiam vacarias e, ali, o leite era vendido a consumidores e leiteiros. Estes, a cavalo, o revendiam de porta em porta. Viam-se filas, ao raiar do Sol, para adquirir leite mungido, quentinho, da ordenha de vaca especialmente tratada. Pessoas, com canecas de alumínio, aguardavam. E o ordenhador, de quando em quando, advertia: “não aceito copo com manteiga no fundo.”. O amanteigado impedia a formação de espuma, complemento da quantidade cobrada.
Parte da população não aceitava a compra domiciliar. Desconfiava ser “leite batizado”, aquele com adição fraudulenta de água. Houve quem garantisse ter encontrado piaba no produto. O “batismo” ocorrera em lagoa ou riacho.
Um dos maiores estabelecimentos locais pertencia a Seu Zé Augusto. Situava-se às margens do córrego que se iniciava no sangradouro da Lagoa de Parangaba. O cuido verificava-se diretamente por aquele senhor, demonstrando estima pelos animais. Veterinário amigo, funcionário de repartição agropecuária, trouxe-lhe a ideia do “caminho da mina”. Criação de búfalos. E encantou-o. Da Ilha de Marajó, não sei como, vieram seis rezes. Um enorme touro, de grandes chifres horizontais, e cinco novilhas. Tão logo colocados no curral, demonstraram estúpida força. Destruíram-no e aboletaram-se na lama do fosso do desaguadouro da lagoa. Lá viviam, cruzavam e pariam. Destruições, brigas com vizinhos, despesas e mais despesas.
Como não há males que durem infinitamente, um motorista fardado, dos sapatos ao quepe, estacionou um Chevrolet Impala defronte a casa de Zé Augusto. Diariamente, compraria dez litros de leite de búfala. Acordado o preço, vezes maiores do que o das nelores e holandesas, o negócio prosperou. Clientes multiplicaram-se. Reluzentes carrões enfileiravam-se. Desconhecia-se o motivo da grande procura, somente descoberto quando um adquirente revelou ser aquele leite mais afrodisíaco do que a catuaba.
Tudo não passou de fogo em palha. A demanda zerou. O gado foi vendido para o agrônomo Valter Benevides.

*Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.
Jornal da Cidade
Aracaju, 15 de junho de 2011
E-mail de Rogério Cristino
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