A crise econômica que atingiu o mundo em 2008 e que ainda hoje se faz
sentir na maior parte dos países afetou em cheio o orçamento das
empresas públicas de comunicação, que dependem principalmente de
recursos públicos para funcionarem. Além disso, precisam disputar a
audiência com as novas tecnologias online, notadamente em
relação ao público jovem. O assunto foi abordado por executivos de
televisões públicas mundiais, reunidos no Rio, de 26 a 28 de novembro,
durante a 23ª Conferência Public Broadcaster International (PBI).
O
diretor de Assuntos Internacionais e Jurídicos da Rádio e Televisão de
Portugal (RTP), José Lopes de Araújo, disse que o maior problema é o
corte de verbas anunciado pelo governo português. “O grande desafio é
sobreviver. Temos um orçamento muito reduzido, limitado. O governo
decidiu que não vai dar mais um euro do orçamento do Estado para a
televisão pública. Desde então, vivemos apenas com a taxa paga por cada
lar, que é 2,65 euros por mês por contribuição ao audiovisual, e com
seis minutos de publicidade de comerciais por hora”, disse Araújo.
Segundo
o executivo, o valor é insuficiente para cobrir todos os custos da
estatal. “Temos que viver apenas com este valor, com uma estrutura muito
pesada, com mais de 1.600 trabalhadores e estúdios em todo o país.
Temos dois canais nacionais abertos, dois canais temáticos no cabo e
dois canais internacionais: a RTP Internacional e a RTP África. O nosso
orçamento anual é de 220 milhões de euros e nossa receita está 20
milhões de euros abaixo do custo. Esta diferença temos que superar com a
redução de custos e a busca de outras formas de financiamento
comercial”, disse.
Para melhorar a audiência, segundo ele, uma
das estratégias é investir mais em esportes, principalmente o futebol.
“Nos últimos três anos, perdemos audiência. Mas faz seis meses que a
estamos recuperando. Um dos conteúdos que dão muita audiência é o
futebol, que é um produto âncora. Os portugueses, ao serem perguntados
sobre o que gostariam que a televisão pública mostrasse, disseram que
era o futebol. O futebol e o esporte em geral farão aumentar nossa
audiência. Da mesma forma que a melhoria na qualidade dos programas de
informação e de ficção.”
A crise financeira também se fez sentir
de forma contundente no maior grupo público de mídia mundial, a
britânica BBC. O diretor de Políticas Editoriais, David Jordan, disse
que a BBC tem sofrido com a redução das taxas de licenciamento nos
últimos três anos e meio, que estão congeladas pelo governo e são
corroídas pela inflação. “Isto é um grande desafio. Temos que buscar
formas de economizar. Existe o perigo de precisarmos reduzir o nosso
serviço, se continuarem a cair as taxas. O grande desafio é como se
adaptar à situação em que o nosso orçamento está muito restrito e ao
mesmo tempo continuar a garantir todos os serviços que costumamos
oferecer”, explicou Jordan.
Agência Brasil
http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-11/televisoes-mundiais-lutam-pela-audiencia-e-contra-falta-de-recursos