Em artigo no O POVO desta segunda-feira (11), o professor do
Departamento de Ciências Sociais da UFC, Uribam Xavier, avalia o caminho
de derrotas políticas de Cid Gomes no processo sucessório. Confira:
A eleição de 2014 marcará o fim do ciclo dos Ferreira Gomes no poder.
Até pouco tempo, parecia que, no Ceará, a vontade do governador Cid
Gomes seria a única a definir o processo de sucessão. Todavia, a
movimentação do senador Eunício Oliveira [PMDB], a partir de janeiro,
criou racha na aliança comandada pelos Gomes. Essa foi a primeira
derrota e baixa sofrida pelo governador e pelo PT. A consolidação da
candidatura de Eunício abriu palanque forte para a candidatura Aécio
Neves à presidência. Essa foi a segunda derrota do governador e do PT.
Todavia, mais do que a segunda derrota, Eunício criou aliança com força
para dividir os grupos políticos locais em condições de ganhar as
eleições.
Já Cid não conseguiu indicar candidato de seu partido [Pros] e acabou
indicando do próprio PT. Essa foi a terceira derrota. O que parecia
eleição segura nas mãos do governador, tendo o PT como coadjuvante,
passa a ser campo de rivalidades pela conquista do poder, onde o
vencedor fica com as oportunidades de configurar este poder, como diz
Maquiavel, para permanecer e se perpetuar nele, e o perdedor,
enfraquecido, cai sob a dependência de alguém. Nesse cenário, Cid é
perdedor, já está na dependência do PT e continuará, mesmo que Camilo
Santana ganhe.
Na forma como o PT se organiza não há espaço para os Ferreira Gomes,
portanto seus vínculos com PT irão se manter por favores. Camilo,
eleito, vai querer ter vida própria. Se perder, Cid terá sua quarta
derrota e verá os fisiologistas do Pros migrarem para o PMDB ou para
partidos pequenos que comporão a base do novo governo. Eunício, se
perder, volta ao senado com capital político maior do que antes das
eleições; se sair vitorioso, será a nova força política do Ceará.
A competição Eunício x Camilo se caracteriza por disputa de poder e
não de projeto. Tratam-se de candidatos querendo disputar a legitimidade
para conduzir o projeto de desenvolvimento iniciado por Virgílio Távora
e atualizado em 1986 pelo “governo das mudanças” de Tasso. Projeto que
vem agregado a algum componente estrutural e ganho social, mas sem
alterar sua lógica que combina crescimento econômico, concentração de
renda e poder patrimonial.
A competição Eunício e Camilo é a disputa pela continuidade de
projeto de colonialidade do poder, onde os dirigentes, colonizados por
uma visão econômica euro-estadunidense, reproduzem, de forma imitativa,
as grandes obras estruturantes com total desrespeito ao meio ambiente, à
nossa cultural e às nossas alternativas locais. Trata-se de modelo onde
as mentes subalternas assumem papel de “Policarpo Quaresma”, que
contribui para o triste fim da maioria da população. Assim, o fim do
ciclo dos Gomes não representa o fim do modelo de desenvolvimento em
curso, mas a mudança do seu grupo gestor.
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