No ano de 1976, eu tive a
oportunidade de ser alfabetizado, informalmente, pela professora Terezinha,
filha do senhor Valdemar.
Seu
Valdemar, casado com dona Maria, morava em uma casa que fica na esquina da Rua
dos Boeiros com a Rua Dr. Manuel de França, ali bem perto da antiga Cadeia
Pública, onde funcionou a Rádio Princesa do Vale FM. Era também o pai do Otávio
da dona Nega (que era o chefe da “Coletoria da cidade” – um cargo semelhante ao
atual Auditor Fiscal da SEFAZ-CE), do Valtinho da Canoa, do Evangelista
(comerciante) e da dona Aparecida (esposa do Domingos da Barra).
De
início, relutei em ir pela primeira vez à aula da professora Terezinha. Talvez
por acanhamento ou por medo de enfrentar novas situações. Minha mãe me deu
lápis, borracha e uma cartilha chamada Cartilha ABC.
A
professora Terezinha alfabetizava várias crianças. As aulas ocorriam no prédio
onde hoje é o comércio do senhor Evangelista, na Rua Dr. Manuel de França. Ela
fazia uso, quando necessário, da famosa palmatória, no entanto, nunca recebi
dela os castigos da época, pois era quieto e estudioso. Minha mochila escolar
era uma embalagem de plástico, de biscoito “cream-cracker” vazia.
Eram
muitos os colegas de classe. Eu tinha que acordar cedinho. Enquanto a
professora não vinha, em frente à “casa de alfabetização”, a gente ficava
brincando de bila (bola de gude) ou de bola. Lembro-me, por demais, do amigo de
sala, de apelido Xoxita, filho da dona Terta, que morava vizinho à casa do
senhor Raimundo Paredão, lá na Rua do Peão. Raimundo Paredão, por seu turno,
era o pai do Cabral e do Baigon. Homem trabalhador, motorista exímio, que
dirigia o caminhão do seu Zeca Totonho (ou do Luiz Totonho). Sempre levava
carradas e mais carradas de algodão a Sobral.
Xoxita
era meio esquálido, canhoto, cabelos encaracolados. Era um menino bom. Nunca
mais o vi e nunca mais tive notícias dele.
Depois
de aprender a ler e a escrever, bem como de realizar algumas “contas” de Matemática,
principalmente cálculos de tabuada, a criançada era considerada apta e ingressava
na escola formal. Comigo deu bom. O meu processo de alfabetização foi tão rápido,
mas tão ligeiro mesmo, que meus pais me matricularam logo no “Grupo Vilebaldo”,
na 2.ª série inicial, ou seja, sem a necessidade de fazer a 1.ª série.
Foi,
então, graças à professora Terezinha do senhor Valdemar que eu, menino tímido e
retraído, ingressei no mundo da leitura, do saber escolar.
Concluí
o 1.º Grau todinho no Grupo (Escola Vilebaldo Aguiar). Minha farda era um par
de tênis, tipo conga, meia branca, calça comprida azul e camisa de tecido
branca com o logotipo da escola.
Terminado
o 1.º Grau (Ensino Fundamental), estudei em seguida na Escola Normal Nossa
Senhora da Piedade, de 1983 até 1986.
Hoje
sou professor da Escola de Ensino Médio Vilebaldo Aguiar, o antigo “Grupo”, de
onde, como disse, fui aluno por muito tempo. Também já lecionei na Escola
Normal Nossa Senhora da Piedade, já extinta.
Quantas
lembranças gostosas! Velhos tempos que não voltam mais!
Depois,
eu conto mais.
Coreaú-CE,
23 de maio de 2014.
FERNANDO
MACHADO ALBUQUERQUE
Professor
Membro da Academia Palmense de Letras
(APL)