Lembro-me
perfeitamente da época em que eu trabalhava na bodega de meu pai, juntamente
com meu irmão Gerôncio, entre a segunda metade dos anos de 1980 e começo dos
anos de 1990, no “Rabo da Gata”, na sede de Coreaú.
Eram
muitos os fregueses, sobretudo constituídos por gente simples do interior do
município, que vinham de várias localidades, como Malhada Vermelha, Alto dos
Ximenes, Cunhaçu Velho, Cunhaçu dos Sales, Raposa, Boiadas, São Vicente, Lagoa
do Mato, Corredores etc. Porém, havia aqueles compradores da própria Rua de
Baixo (Rabo da Gata), a exemplo das pessoas de Antônio Bilé e dona Zali, Chico
Martins e dona Levi, Antônio Conrado e dona Fransquinha, Antônio Ludovico e
dona Franci, Creci e Neoci do Chico Doca, Neném Amaral, enfim, quase todos os
moradores da sobredita rua.
Naquele
período, comprávamos ovos de galinha à caipira, chapéus de palha, algodão,
castanha de caju, peles de criações (couros de bode, cabra, carneiro, ovelha)
dos clientes das localidades mencionadas, os quais, com o dinheiro arrecadado
realizavam suas compras. Nalgumas oportunidades, ficavam ainda nos devendo,
sendo certo que fazíamos anotações em cadernetas (ou em cadernos mesmo),
valendo destacar que todos ou quase todos honravam com seus compromissos e agiam
com estrita honestidade, inobstante as dificuldades por que passavam em dado
momento.
Quando
meu pai - experiente que era no comércio – percebia que um dado freguês nosso
não estava mais podendo pagar uma conta antiga, pois vultosa ficara, ele
chamava o devedor e lhe dizia que podia ficar comprando à vista e, num momento
futuro, receberia sem o impacto de juros aquele débito anterior.
Por
muitas vezes nos deparávamos com o movimento da bodega “fraco”, e eu me punha a
reclamar. Dizia que iria abandonar o ramo do comércio e seguiria a carreira
estudantil. O senhor Antônio Conrado, freguês e morador da Rua de Baixo, depois
do almoço, amiúde vinha conversar comigo. Fumando seu cigarro “Belmont”, de pé,
escorava a sola de um dos pés na quina do portão da bodega, e dizia “Fernando,
calma. Devagarzinho, a gente chega depressa”.
O
senhor Antônio Conrado me falou isso inúmeras vezes, a ponto, claro, de eu
nunca me ter esquecido.
Larguei
a atividade comercial depois de pensar bastante e adentrei no mundo dos estudos,
transformando-me, com o passar dos anos, em servidor público e professor, atividades
laborais das quais me orgulho, e as quais me felicitam.
Assim,
ficou a lição do senhor Antônio Conrado: com calma, paciência e persistência,
ou seja, DEVAGARZINHO, atingimos nossos objetivos e realizamos,
consequentemente, nossos mais distantes propósitos, enfim, acabamos chegando
DEPRESSA.
FERNANDO MACHADO ALBUQUERQUE
Membro
da Academia Palmense de Letras (APL)
Professor
e Técnico Judiciário
Coreaú-CE