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23/06/2012

O VIVER HUMANO


“A vida é o mar, o barco somos nós...”, escreveu um poeta nas linhas de um poema musicado.  Quão grande metáfora a sintetizar a vida humana: o mar e o barco. Este simbolizando a nossa fragilidade, aquele a nossa ignota estrada terrena.
Na riqueza romântica do poeta, nessa alegoria, salta, também, outra bela figura de linguagem, uma significante antítese. O limitado ser humano contempla o mar com seus mistérios, profundidade, largueza e perigos, considerando a agitada e longa travessia que lhe é dada por sentença logo ao nascer.
Que desafiador percurso para quem dispõe de poucas forças, um pequeno barco, homem ou mulher, tendo como timoneiro um coração devaneador e como bússola uma mente às vezes não muito exercitada e de outras, um tanto desvairada? O que fazer diante da impetuosidade das ondas, da intensidade das tormentas, das ciladas da sereia sonhadora, dos arrufos dos piratas, dos desvios de rotas...? Como se portar frente à solidão das águas, tendo apenas como companheiros de viagem o firmamento, a luz do sol, o brilho da lua e das estrelas..., e o arrufar de assas de dispersas aves marinhas?  O tempo, astuto professor de moços e velhos, nos ensinará vencer as intemperes da longa maratona.   
Começamos a navegar, em tenra idade, numa fragilíssima jangada, a infância colorida e fantasiosa, largada aos ventos da esperança. Depois, surge ridente e, por vezes, absorta, mas sempre encrespada pelos sonhos, a lancha de dois tempos: a adolescência e a juventude, enfeixada no termo mocidade com suas incitantes surpresas, prazerosas descobertas e frustrantes interrogações. De repente, nos damos conta que já singramos muitas milhas. Estamos em alto mar. Eis que, em cores suaves, se apresenta sorrateira a nau maturidade, repleta de feitos, decepções e conquistas.  Resta-nos a última etapa da movimentada travessia. Para tanto, sem delongas, embarcarmos na corveta ‘melhor idade’, o pomposo eufemismo dado à velhice, completando, assim, o ciclo das estações biológicas.
Ao atingirmos a idade provecta, a vida, aqui, simbolizada pelo mar, apesar de suas costumeiras procelas, mostra-se um pouco mais amena, vicejando saudades e lembranças dos fulgores de outras épocas. Somos outra vez crianças, não mais peraltas como dantes, mas blindados por um discreto entusiasmo, exibimos experiência e sabedoria, que formam o estandarte da honrosa ancianidade. Isto nos conforta!

Fortaleza, 17 de junho de 2012
Leonardo Pildas

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