Os traços de nossa cultura, os sintomas e os mais diferentes dilemas são hoje freqüentemente refletidos na mídia. Um fenômeno exemplar são os Reality Shows apresentados na TV. Para refletirmos sobre a valorização e banalização espetacular da vida íntima, tomamos como foco de análise e reflexão o programa “Big Brother” (BBB), apresentado pela rede Globo de Televisão. O gosto, o interesse e a apreciação pela vida íntima, foram explicitados pelas teorizações do sociólogo Richard. Sennett (1999). A experiência de si como interioridade emerge com a dialética público/privado que marcara a modernidade, logo, a exposição da intimidade em nossa sociedade é oriunda da “exploração da vida privada” que ocorreu ao longo dos séculos, sobretudo, entre os séculos XVIII e XIX. De fato, talvez estejamos hoje diante de um novo paradigma, vivendo uma transição sem precedentes, sobretudo, porque estamos perdendo as referências que possuímos no passado, calcadas em determinados valores que serviam de balizas para nossas identidades e relações sociais. Um desses valores seria a preservação da intimidade (sagrada em tempos remotos), agora, frente a sua transformação e debilidade, está fadada, definitivamente, a seu declínio e supressão. Quanto a passividade dos curiosos telespectadores do “BBB”, identificamos o consumo passivo de imagens por um público devoto do “lixo televisivo”, que vibra diante do espetáculo fomentado pela indústria do entretenimento e pela ficção do “real”, são imagens de banalidades, vulgaridades e bisbilhotagem da vida alheia e privada de pessoas anônimas e distantes que passam parecer tão próximas. Guy Debord (1997), tratando da sociedade do espetáculo, chamou atenção para o poder do espetáculo em termos de constituição da alienação dominantes das audiências passiva, assim, ensina que o espetáculo na sociedade corresponde a uma fabricação concreta da alienação, pois, quem fica apenas observando o que vem depois, não age, é assim deve ser o alienado telespectador: um indivíduo apático, sem liberdade de reflexão crítica, devoto ao grotesco, futilidades, banalidades e a mercantilzação da vida íntima. Com efeito, o “BBB” não passa de uma armação inteligente, um jogo de simulações como se de fato não fosse. Embora a armação tome o formato de uma novela, a estratégia ideológica utilizada vai além dela, pois, a simulação gira em torno do fato de que todos sabem que nas novelas os atores representam papéis e que no “BBB”, as pessoas são (comuns) “reais”, aliás, como são os telespectadores, assim, os participantes do “BBB” são apresentados como se realmente estivessem (sendo filmados ao vivo e) vivenciando de modo espontâneo situações inusitadas etc.
Fonte: shvoong