Quem está no poder tem informações privilegiadas e sabe de coisas que o cidadão comum ignora. Às vezes, tem a impressão de que só aquele círculo sabe realmente o que está acontecendo. Não é raro que a impressão seja verdadeira. Por outro lado, esse poder, capaz de propiciar conhecimento negado a todos os demais, é também motivo de ilusão.
O mundo observado de dentro do Palácio oferece perspectiva distorcida. A reclusão do gabinete e a inexorável solidão de quem governa podem facilmente romper a conexão com o que se passa do lado de fora. Perde-se a noção da realidade, sobretudo no triunfo.
Há relatos de que um imperador romano, ao retornar das conquistas e ser saudado pela multidão, tinha um escravo que, enquanto segurava a coroa de louros sobre sua cabeça, repetia ao seu ouvido: “Lembra-te de que és humano”. A glória embebece, mas mesmo a derrota pode obscurecer a visão.
Atribui-se ao cantor Chico Buarque a sugestão para criação do “Ministério do Vai Dar Merda” – com o perdão do termo chulo. A função do ministro seria alertar ao governante sobre o potencial desastre causado por decisões prestes a ser tomadas. Por exemplo: um governante pretende entrar na Justiça contra o piso salarial dos professores. Caberia ao ministro lhe dizer: “Vai dar m…”
Também Maquiavel alertava para a necessidade de o príncipe escolher homens sábios que teriam o papel de aconselhá-lo. E deveria deixar claro a eles que não ofenderiam o governante ao falarem a verdade. Para o filósofo florentino, dessa forma o político se protegeria da ilusão proporcionada pelos aduladores, “porque os homens se alegram tanto com as próprias coisas e enganam-se tanto nestas, que com dificuldade defendem-se dessa peste”.
A peste, no caso, são os puxa-sacos.
(Coluna Política / O POVO)
Obs.: O texto foi sugerido pelo Professor Fernando Deda.