Jesus é depositado nos braços de sua Mãe
· Plinio Corrêa de Oliveira
A Redenção se consumou. Vosso sacrifício, Senhor Jesus, se fez inteiro. A Cabeça da Igreja, que sois Vós, sofreu quanto tinha de sofrer. Restava aos membros do corpo padecer também. Junto à Cruz estava Maria Santíssima. Para que dizer uma palavra que seja, sobre o que Ela sofreu? Parece que o próprio Espírito Santo evitou descrever a pungência da dor que inundava a Mãe como reflexo da dor que superabundou no Filho.
O Profeta Jeremias, num tópico de suas Lamentações, colocou na boca do Redentor o seguinte brado de aflição, que este proferiria em Sua Paixão: ‘Ó vós todos, que passais pelo caminho, atentai e vede se há dor semelhante à minha dor’ (Jer. I, 12).
Isto pode aplicar-se também à dor de Nossa Senhora. Só uma palavra a pode descrever: não teve igual em todas as puras criaturas de Deus.
Nossa Senhora da Piedade! É assim que o povo fiel invoca Nossa Senhora quando A contempla, sentada, com o cadáver do Filho divino ao colo. Piedade, porque toda Ela não é senão compaixão. Compaixão do Filho. Compaixão dos filhos, porque Ela não tem só um filho. Mãe dEle, tornou-se igualmente Mãe de todos os homens. E Ela não tem apenas compaixão do Filho, mas também dos filhos.
Ela olha para nossas dores, nossos sofrimentos, nossas lutas. E sorri para nós no perigo, chora conosco na dor, alivia nossas tristezas e santifica nossas alegrias.
O próprio do coração de Mãe é uma íntima participação em tudo que faz vibrar o coração dos filhos. Nossa Senhora é nossa Mãe. Ela ama muito mais cada um de nós individualmente, ainda que seja o mais miserável e pecador, do que poderia fazê-lo o amor somado de todas as mães do mundo por um filho único. Persuadamo-nos bem disto.
É a cada um de nós. É a mim. Sim, é a mim, com todas as minhas misérias, minhas infidelidades tão asperamente censuráveis, meus indesculpáveis defeitos. É a mim que Ela ama assim. E ama com intimidade. Não como uma Rainha que, não tendo tempo para tomar conhecimento da vida de cada um dos súditos, acompanha apenas em linhas gerais o que eles fazem.
Ela me acompanha em todos os pormenores de minha vida. Ela conhece minhas pequenas dores, pequenas alegrias, meus pequenos desejos. Ela não é indiferente a nada.
Se soubéssemos pedir, se compreendêssemos a importunidade evangélica como uma virtude admirável, saberíamos ser minuciosamente importunos com Nossa Senhora! E Ela nos daria na ordem da natureza, e principalmente na ordem da graça, muitíssimo mais do que jamais ousaríamos supor.
Nossa Senhora da Piedade! Tanto valeria, ou quase, dizer Nossa Senhora da Santa Ousadia. Porque o que mais pode estimular a santa ousadia – ousadia humilde, submissa e conformada de um miserável – que a piedade maternal inimaginável de quem tudo possui?”
Via Sacra, XIV Estação, “O Legionário”, São Paulo, nº 558, 18-4-1943.
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Indicação Ana Célia Belchior