Síntese das máximas do cardeal Jules Mazarin, “Breviário dos Políticos”,
é uma obra atual depois de 300 anos
é uma obra atual depois de 300 anos
O que o cardeal Jules Mazarin — que nasceu Giulio Mazzarino, se naturalizou francês e morreu em 1661 — tem em comum com o incomparável Maquiavel, além da naturalidade italiana? A resposta está no Breviário dos Políticos, uma seleção de máximas do cardeal relançada pela Editora 34 em formato de bolso. Se não tem a popularidade — e a densidade — de O Príncipe, esse Breviário leva vantagem por não dar conselhos a um príncipe em particular. É um guia para aqueles que sonham conquistar o poder. Na edição brasileira, as máximas vêm precedidas de uma apresentação, assinada pelo político Bolívar Lamounier. E o prefácio de Umberto Eco é um aperitivo especialmente saboroso para o que vem a seguir. Os dois fazem a comparação inevitável com Maquiavel, para acentuar as diferenças, para acentuar as diferenças e ressaltar os pontos convergentes.
Mazzarin sucedeu ao Cardeal Richelieu, o todo-poderoso ministro de Luís XIII, em 1642. Não tinha nem a classe nem a sabedoria de Richelieu, mas era esperto o suficiente para circular com desenvoltura pela Corte, a ponto de assumir a educação do jovem príncipe que o Mundo conheceu como Luís XIV. Vem dessa intimidade com o poder a matéria-prima para os conselhos que em 300 anos não perderam a atualidade.
No prefácio, Umberto Eco fornece a chave para entender o Breviário: “é que este livro nos descreve aquilo que o homem de poder já sabe. Talvez por instinto”, escreve. “Nesse sentido, não é só um retrato de Mazarin. Usem-no como indentificador de perfis para a vida cotidiana. Encontrarão aí muitas das pessoas que conhecem, por tê-las visto na televisão ou por tê-las encontrado no trabalho”.
Breviário dos Políticos poderia ter como subtítulo qualquer coisa como “um manual para dominar a arte do cinismo e da manipulação’. Visto por outro ângulo, é um manual de sobrevivência na selva da política, dos negócios e da vida em sociedade. Tanto quanto ensina a dissimular, Mazarin põe a nu os truques usados por quem aplica as suas máximas disseminadas pelo Mundo durante séculos. Nisso, a obra tem muito a ver com Maquiavel.
Em um artigo intitulado Máscaras na Corte, o historiador Voltaire Schilling traça um perfil irretocável do Cardeal Mazarin e de sua obra. “Promove, no lugar da ética, o ardil, a astúcia e o cinismo”, escreveu Schilling. “A palavra é um florete. Fina e flexível, se estocada no coração, mata. Mas também desvia o golpe. Perante os poderosos, é bom que seja pronunciada num tom que não revele a adulação, nem que o faça passar por um bajulador. Deve limitar-se ao sinuoso e escorregadio espaço que separa a lisonja do respeito”.
Em um artigo intitulado Máscaras na Corte, o historiador Voltaire Schilling traça um perfil irretocável do Cardeal Mazarin e de sua obra. “Promove, no lugar da ética, o ardil, a astúcia e o cinismo”, escreveu Schilling. “A palavra é um florete. Fina e flexível, se estocada no coração, mata. Mas também desvia o golpe. Perante os poderosos, é bom que seja pronunciada num tom que não revele a adulação, nem que o faça passar por um bajulador. Deve limitar-se ao sinuoso e escorregadio espaço que separa a lisonja do respeito”.
Máximas de Jules Mazarin
“Fala sempre com um ar de sinceridade. Faz crer que cada frase saída da tua boca vem diretamente do coração e que tua única preocupação é o bem comum e afirma, além disso, que nada te é mais odioso do que a bajulação”. “Guarda sempre forças em reserva, a fim de que ninguém possa conhecer os limites de teu poder”.
“Quando um homem é atingido por um grande desgosto, aproveita essa ocasião para adulá-lo e consolá-lo. É com freqüência que em tais circunstâncias, que ele deixará transparecer seus pensamentos mais secretos e que mais bem oculta”.
“Desconfia de um homem que faz promessas fáceis. É geralmente um mentiroso e um pérfido”.
“Um bom meio de reconhecer um bajulador: conta-lhe que és autor de alguma ação ignóbil, fingindo orgulhar-te dela como de uma façanha. Se ele te felicita, é um bajulador; Um homem sincero pelo menos se absteria de um comentário”.
“Das pessoas muito preocupadas com sua aparência, nada a temer”.
“Arranja-te para que teu rosto jamais exprima nenhum sentimento particular, mas apenas uma espécie de perpétua amenidade”.
“Jamais confies a ninguém tuas inclinações íntimas, nem tuas repugnâncias, nem tuas timidezes. Jamais te envolvas te envolvas pessoalmente em ocupações medíocres: deixa-as a teus subordinados e não fales delas”.
“Não busques penetrar no segredo dos poderosos. Se eles forem divulgados, é de ti que suspeitarão”.
“Sempre que possível, evita fazer a menor promessa por escrito, sobretudo a uma mulher”.
“Deixa a outros a glória da fama. Interessa-te apenas pela realidade do poder”.
Jamais te rebeles contra as reprimendas de seus superiores, descabidas ou não. Em presença de outrem, escusa sempre os desvios de conduta deles e elogia-os em qualquer ocasião”.
Jamais te rebeles contra as reprimendas de seus superiores, descabidas ou não. Em presença de outrem, escusa sempre os desvios de conduta deles e elogia-os em qualquer ocasião”.
“É preciso conhecer o mal para poder combatê-lo”.
“Age em relação a teus amigos como se eles devessem tornar-se um dia teus inimigos”.
“Numa comunidade de interesses, há perigo logo que um membro se torna demasiadamente perigoso”.
“Numa comunidade de interesses, há perigo logo que um membro se torna demasiadamente perigoso”.
“Mantém sempre presente estes cinco preceitos: simula, dissimula, não confies em ninguém, fala bem de todo mundo e reflete antes de agir”.
Breviário dos Políticos, do Cardeal Mazarin.
Tradução Paulo Neves.
Editora 34, 206 págs., R$ 18,00
e-mail professor Fernando Machado