* Geraldo Duarte
Final dos anos cinquenta. O jornal Gazeta de Notícias solicitou e o educador Filgueiras Lima, diretor do Colégio Lourenço Filho, indicou João Bosco Serra e Gurgel para editar GN Estudantil, página domingueira do “Matutino independente do Ceará”. Bosco convidou-nos para a empreitada. Contávamos 17 anos de idade. Foi o início de uma experiência jornalística.
Focas, novatos no jargão da imprensa, tudo era fascínio e curiosidade.
A redação e oficinas da GN ocupavam o térreo do prédio, com a fachada em forma de rádio receptor, na esquina de ruas General Sampaio e Meton de Alencar. No piso superior, funcionava a Rádio Uirapuru de Fortaleza.
O jornalista Humberto Ponte, secretário da Gazeta, recebeu-nos, mostrou as dependências, explicou a dinâmica de funcionamento de cada setor daquele veículo de comunicação e encerrou com um “Agora peguem qualquer máquina livre e comecem a botar as idéias no papel. Jornal é assim. Aprende-se fazendo, tudo é para ontem, sem tempo a perder”.
Sons vindos da linotipo na produção dos lingotes de chumbo, com caracteres fundidos, chiados do receptor Mullard de 12 válvulas - o radioescuta -, batidas de teclas das máquinas datilográficas Remington e Royal e o funcionamento do teletipo, com pausados plins, empolgavam. Não era barulho. Ao nosso entusiasmo, sonata. Também teste do poder de concentração. Quem não o possuísse, sairia correndo. Começado o trabalho da rotativa, o cheiro característico da tinta de impressão, mesclado ao do chumbo fervente dos lingotes, completava o ambiente de trabalho. O aprendiz da época era um faz-tudo. Em poucos meses, além das matérias estudantis, incumbiam-nos de reportagens, entrevistas e sínteses de notícias das agências internacionais.
Outro dia inesquecível. O do recebimento da carteira de filiado à Associação Cearense de Imprensa (ACI) das mãos do doutor Perboyre e Silva.
A aprendizagem evoluiu com lições dos mestres da Gazeta. Os inesquecíveis Humberto Ponte, Telmo de Freitas, J. Arabá Matos, Geraldo Oliveira e o fotógrafo Manoel Lima. E do devotado Mestre Feijão, linotipista, responsável pela manutenção da longeva maquinaria e indispensável à circulação diária do jornal.
Jornal da Cidade
Aracaju, 5 de agosto de 2011 e-mail de Rogério Cristino
