por Débora Vaz, em seu blog
Desde a mais tenra idade sempre ouvi falar que as pessoas que escolhem trabalhar com a educação de crianças e jovens são dotadas de uma vocação especial, algo similar ao que é dito sobre os homens que renunciam a uma série de prazeres materiais para abraçar o sacerdócio católico. A meu ver, por trás desse discurso meigo está escondida uma ideologia lamentável: para alguns, quem trabalha na educação pública, área historicamente desprezada em nosso País, merece um salário ínfimo, afinal, é uma pessoa vocacionada, quase mártir, que certamente terá um lugar reservado no paraíso depois de uma vida de sofrimentos e incompreensão não apenas por parte do poder público, como também pela sociedade de modo geral.
Em meio à constante desvalorização da docência pública do Brasil e, em especial, a do Estado do Ceará, professores articulam greves para alertar os governantes e a sociedade civil sobre as dificuldades vividas cotidianamente dentro e fora das salas de aula, sendo a mais grave delas a questão salarial. Por conta de uma extrema má vontade, o governador cearense Cid Gomes continua se recusando a pagar corretamente o piso salarial dos professores da rede pública estadual, além de não querer tentar qualquer acordo com tal categoria, pois, segundo ele, “Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado”.
Após essa declaração desastrada vinda de um homem que supostamente deveria governar para o povo, não pude deixar de sentir indignação, revolta e um certo sentimento de impotência, já que tanto a imprensa quanto a maioria esmagadora da Assembleia Legislativa de meu Estado dificilmente contestarão a visão torta do governador. Para eles, detentores do poder nas mais diversas esferas da sociedade cearense, é muito mais interessante voltar os holofotes para as belezas naturais desta terra, enaltecendo as possibilidades de lucro com o turismo (que só serão sentidas em seus bolsos), do que centrar esforços para melhorar a educação básica e dar melhores oportunidades às milhares de crianças pobres que jamais frequentarão uma escola privada. Afinal, quem vai querer uma massa de gente esperta e crítica para derrubar os poderosos?
Sei que o descaso com a educação pública não começou na administração de Cid Gomes nem é exclusividade do meu Estado. O Brasil inteiro padece desse problema. Em 2010, comemoramos a derrocada do tucano Tasso Jereissati, cujo mandato prejudicou bastante a educação cearense. Hoje vemos que tal derrota foi apenas simbólica, pois Cid Gomes, que hoje pertence a um partido dito “socialista”, está apenas reproduzindo os mesmos discursos e práticas de seu antigo preceptor, mesmo dizendo que os vínculos políticos entre eles estão rompidos.
Como é possível ter esperança em um futuro melhor para o nosso Ceará com uma liderança de visão torta como Cid Gomes? É terrível pensar que, com a força que ele tem, poderá eleger um sucessor com grande facilidade. E quem sabe até dizendo que seu governo “beneficiou” a educação pública, mostrando, na propaganda eleitoral, escolas fabricadas no photoshop e atores sorridentes fingindo ser professores.
Fonte: Viomundo