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23/06/2011

LAUDA RECORDATÓRIA

O tempo passa numa marcha inexorável e o destino segue suas pegadas. Na distante manhã de 28 de janeiro de 1961, sábado, eu menino de doze anos deixei a minha terra, o meu rio e a minha família em busca do saber. Cheguei à cidade de Fortaleza, por volta das 17h, em companhia de minha mãe. Viemos de carona no jeep do senhor Deusdédit Gomes Fontenele, conterrâneo e amigo, funcionário da Fazenda Estadual que, à época, já residia na capital.

No final da tarde de 31 de janeiro de 1961, terça-feira, eu ingressava oficialmente na Escola Apostólica Nossa Senhora de Fátima, Seminário Menor dos padres dehonianos, no bairro da Floresta, atualmente denominado de Álvaro Weyne. Os coreauenses Raimundo Nonato de Aguiar (Prof. Aguiar) e Romildo Teles Pinto da Frota entraram nessa casa de formação no final de julho de 1960.


Com a minha chegada ao casarão da Floresta estava formado o trio palmense que desejava palmilhar a vida religiosa na Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus – SCJ, os dehonianos como são também conhecidos, nenhum dos três conseguiu tal intento.  No entanto, todos cresceram em sabença e em cidadania.   





Embora meio século seja a idade de minhas lembranças desse tempo de estudos e de descobertas nesse velho estabelecimento escolar, elas saltam tão vigorosas que me assustam, pois parecem que não sofreram o desgaste natural de tantos anos. Continuam vivas e nítidas como outrora. Assim, abro o arquivo dessas reminiscências e vejo a austeridade e a singeleza daquele retirado mundo da minha adolescência.

O corpo de formadores era constituído por padres brasileiros e holandeses. Inspirados no carisma dehoniano, eles ensinavam o conteúdo curricular e formavam cidadãos honrados e disciplinados. Por vezes, repetiam as palavras do Padre João Leão Dehon, o fundador dessa Congregação: “Não basta fazer bem aquilo que fazemos, é preciso fazê-lo com amor”. Esta admoestação contém uma grande lição.

Era um tempo de muito estudo e forte disciplina, porém alegre e festivo. A oração e o trabalho estavam presentes na lida diária de forma predominante. O esporte e a cultura tinham lugares realçados. O canto gregoriano solenizava os eventos litúrgicos e canônicos. A música, o teatro e a poesia completavam a ambiência acadêmica naquele harmônico recinto. 
Um velho chavão assevera que recordar é viver. Neste comenos sentimental, estou revivendo um pouco do universo da minha longínqua adolescência. Tudo são recordações de um inesquecível passado, que guardo com muito cuidado.

 Mesmo vivendo bastante ocupado com estudo, trabalho, oração e lazer, eu não esquecia o meu torrão natal. A saudade da Palma era chorada no coração. Ao cair da tarde, no silêncio interior, eu ouvia as badaladas do sino da Matriz de Nossa Senhora da Piedade anunciando a “Ave Maria”. Na melancolia que invadia o meu ser, estendia a visão até os cajueiros do seu Chico Barra e, em pensamento, contemplava o sol em ocaso recolhendo-se para as bandas da Ibiapaba.

Hoje, Palma, cinquenta anos depois, já não sou aquele garoto, mas a saudade que sinto do teu regaço maternal é a mesma, dói como antigamente.

Fortaleza, 27 de maio de 2011
Leonardo Pildas
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