O ser humano não tem idade, tem vida! Centrado neste argumento, vivencia as quatro fases do processo natural de desenvolvimento que lhe é inerente: infância, juventude, maturidade e velhice. O Padre Quinderé, com seu humor estilizado e sua singular genialidade, cunhou este apotegma: “A velhice é o calor lento, é o sal da sabedoria que retempera e dá sabor aos atos humanos. É como a bússola, mareia o barco e norteia o nauta”. Alguém escreveu: “Momentos de celebrar, a vida é um milagre!” E nós acrescentamos, principalmente, quando se completa nove décadas de existência.
Embora, neste espaço-tempo, estejamos no litoral, ouvindo o marulhar das ondas do mar, imaginemos que estamos na então vila da Palma, em pleno sertão, no imenso vale plantado entre as serras da Meruoca e da Ibiapaba, onde começou a história de uma vida que continua alegrando as três gerações que fez brotar ao longo de sua honrosa caminhada.
Na data de 14 de setembro de 1920, Antônio Teles Dourado e Flora de Queiroz Teles uniram-se em matrimônio, ensejando o nascimento de Maria Teles de Queiroz, no dia 15 de junho de 1921. A chegada da menina Maria encantou o lar do jovem casal. Ela recebia os afagos de seus pais e os mimos de sua tia-avó e madrinha Todinha (Virgínia Queiroz), que lhe dedicou um grande e afetuoso amor.
No faz de conta ajustado há pouco, nos encontramos na Palma, por isso recordemos um pouco o período compreendido entre 1930 e 2004. Em 1936, no verdor dos quinze anos, a jovem Maria viu seu genitor assumir o cargo de Prefeito Municipal de Palma, por eleição direta. Tornando-se um dos políticos mais influentes do município. Em outras épocas, já adulta, ela vivenciou muitos momentos da história política de Coreaú como filha, irmã, esposa, mãe, cunhada e tia de políticos.
Após os primeiros estudos na terra natal com a professora Nenzinha Gomes, encaminhou-se para Fortaleza com o intuito de prosseguir na senda do conhecimento. Fez o exame de admissão no Colégio da Imaculada. Anos depois, estudou na Escola Doméstica São Rafael, onde aprendeu artes culinárias. Finda a temporada de estudos, retornou ao terno berço.
Com a idade de 24 anos incompletos, com ar de princesa, ela curtiu a marcha nupcial no vibrante embalo do sonho dourado da mocidade, rumando para a vida a dois, tendo como príncipe o cabo Frota. Casou-se, no dia 29 de maio de 1945, na Matriz de Nossa Senhora da Piedade em Coreaú, com Euclides Pinto da Frota, filho de Francisco Pinto de Albuquerque e de Maria Jovelina Gomes de Albuquerque. A celebração religiosa foi presidida por Frei Cornélio Arndt, vigário coadjutor da paróquia. Enquanto a união civil teve como oficiante o Juiz Municipal Dr. Luiz Bezerra de Menezes.
Desse enlace matrimonial bem sucedido, nasceram sete filhos: Eliene, Eliane, Romildo, Bernardone (in memoriam), Elineide, Rogério e Flora. Todos se casaram e constituíram prole.
No início da década de 1940, pertencia a Pia União das Filhas de Maria da Paróquia de Coreaú, tendo inclusive sido presidente. Após o casamento, entrou para o Apostolado da Oração. Mesmo residindo em Fortaleza, ainda pertence a esta associação religiosa da Matriz de Coreaú.
Em Coreaú, além das lides domésticas, foi funcionária da Prefeitura Municipal, tendo exercido o cargo de Secretária Municipal entre 1948 e 1952.
Com o falecimento de seu amado esposo, ocorrido no dia 31 de dezembro de 2004, no mês de janeiro de 2005, ela transferiu-se para Fortaleza, passando a residir na casa de sua filha caçula.
Continuemos, ainda, naquela vila de outrora sob a égide do imaginário. No alvorecer de 15 de junho de 2011, o bombo da velha Banda de Música da Palma (Lira Palmense), como dantes, anunciou, estridentemente, numa das esquinas da cidade, uma data festiva. A notícia ganhou as ruas como antigamente, tratava-se dos noventa anos da distinta senhora Maria Teles de Queiroz Frota que fez da lida do lar o seu labor preferido. Da Rua de Baixo à Rua de Cima, seguindo pelo Alto São José, que em tempos mais recuados chamava-se Alto da Formiga, o assunto era a festa de Dona Maria Teles. Mas as letras do elegante convite informam que a solenidade do marco nonagenário tem como ribalta o aconchegante recinto do Fiesta’s Buffet, na metrópole capital.
A Palma, de imediato, recolheu o arquivo de lembranças e nós fechamos as asas da imaginação. Em pensamento, contornamos a Meruoca e, no leito da grande estrada, seguimos em frente. Após alguns instantes, adentramos de volta à litorânea Fortaleza, terra de brisa marítima e belas paisagens. Nesta manhã, num fraternal encontro, comemoramos a vitoriosa façanha alcançada por essa provecta palmense que é mãe, avó e bisavó.
Dona Maria Teles, estão, aqui, seus filhos, netos, bisnetos, noras, genros, irmãos, sobrinhos, cunhados, parentes, conterrâneos e amigos. Enfim, gente de todas as idades para juntos agradecer a Deus por esta galharda conquista. Porém, duas ausências são muito sentidas neste seleto festim: a de seu esposo, velho companheiro de louros e percalços, e a do filho que governava a Palma quando partiu.
Neste aprazível recanto, ecoam sussurros e murmúrios de felicidades. Saltam saudades e lembranças de pessoas e de acontecimentos, que marcaram a alongada e divertida travessia da infância ditosa à veneranda marca dos noventa anos, consagrados pela prudência, moderação, temperança, sensatez e reflexão. Além das distrações que povoam todas as idades. Na juventude, estas são puramente quiméricas; na velhice, são reconhecidas como avisos da senilidade. Todavia, ambas são próprias do ser humano e, por conseguinte, atingem a todos em qualquer estágio da vida.
A história é filha da memória e do tempo. Todos nós escrevemos, a cada dia, a nossa história individual e coletiva. Hoje, que é tempo presente, fazemos memória neste festivo ambiente. Quando o amanhã, que é futuro, chegar, este momento será passado e a história, mediante os fatos vividos neste agora, guardará nos seus anais, o tempo e a memória desse indelével evento familiar.
Dona Maria Teles, em tom vibrante, proclame esta máxima ditada pelo exponencial escritor alemão, Goethe: “Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira.” Não importa o número de anos completados, quinze ou noventa, o importante é que emoções foram vividas e, ainda, continuarão presentes no seu viver por muito tempo com a graça de Deus. Parabéns! Parabéns!
Fortaleza, 25 de junho de 2011
Leonardo Pildas