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06/11/2010

A BALA DE OURO

Paulo Costa Lima, De Salvador (BA)

1. Não se faz um País sem Povo. Mas, ora, o Brasil foi durante séculos, justamente algo nessa direção. Tudo começou de forma oficial na Praça Thomé de Souza - Salvador, em 1549, com um Regimento Geral aprovado em Lisboa e funcionários portugueses envolvidos na aventura da implementação. Os indígenas lá longe.

2. Por aqui o país oficial sempre foi um, e o povo sempre precisou inventar o seu próprio. Fez isso de forma genial, reinventando formas de vida - e essa é talvez nossa melhor marca distintiva, da música à culinária. Mas, quanto ao problema da dissociação entre vida e participação política ainda estamos longe de uma transformação estável.

3. A manutenção de milhões de pessoas em estado de miserabilidade, a desigualdade regional, o desincentivo à produção significam justamente que não há um país para todos. E incide diretamente sobre o desafio de inclusão econômica e política dessa impressionante camada. Com o atraso secular produzido pela ditadura militar de 64, tivemos todas as iniciativas nessa direção adiadas até praticamente o início dos 90.

4. Não resta dúvida alguma que a era Lula teve um efeito bastante positivo sobre esse processo, relativizando a força secular das soluções e valores adotados pela elite. A sociedade precisará dizer se considera 'virtuoso' ou 'vicioso' o processo de articulação popular desenvolvido pelo período Lula, no bojo mais amplo de sua perspectiva de gestão.

5. Falo em articulação popular como processo amplo e não como prestígio de um personagem solo. O conjunto de todos os vetores sociais na direção de uma nação com menos desigualdade e maior autonomia - econômica, política, de conhecimento...

6. Também como dimensão civilizatória de participação mais eqüitativa, coisa que nunca alcançamos, sempre meio que hipnotizados pela tal agenda "dos de cima", pelos seus juízos técnicos e valorativos, muitas vezes absolutamente parciais, porém tornados em unanimidade forçada, sua visão de mundo distribuída pelos Sistemas de comunicação hegemônicos.

7. Não que haja uma perspectiva popular pronta, aguardando ser projetada por algum governo. Trata-se justamente do desafio de fazer aflorar a possibilidade de construí-la. De abrir espaço para um laboratório de novos circuitos sociais, com todos os riscos (e benefícios) inerentes ao desafio. Seguir o bom senso "dos de cima", nossa tradicional solução, mobiliza adeptos históricos, sempre prontos a desacreditar processos de transformação do poder - de inclusão de novos personagens políticos;

8. No final das contas é isso que estaremos decidindo. Se as marcas do governo Lula nessa direção são autênticas e merecem continuidade ou não. Leio agora na internet o significativo apoio de Chico Buarque e diversos outros artistas e intelectuais.

9. A rigor, a ex-candidata Marina Silva nada precisaria dizer. Toda sua vida pública - desde a tênue possibilidade de sua existência até a pujante presença como senadora e ministra - falam da virtuosidade do processo de mobilização de lideranças populares desencadeado pela era Lula.

10. Do ponto de vista dos movimentos sociais, da cultura como direito de cidadania, do ponto de vista de uma política de conhecimento para o Brasil, do ponto de vista do desenvolvimento com inclusão, e de vários outros ângulos, a virtuosidade do ciclo Lula é bastante clara. Dialoga claramente com a aprovação de 80% do seu governo. Com a transformação cultural de perceber que um "de baixo" (e, portanto, mil "de baixo") podem assumir liderança de forma inovadora. Podem dialogar com o bom senso das elites de forma construtiva.

11. Ora, a delicadeza da montagem desse laboratório de reconfiguração política do país, que também toca nas questões de peso regional - e o papel de Dilma nesse processo - não pode ser atropelado por um estilo de campanha construído em cima de factóides malévolos, distorções, temas-tabu e retóricas que celebram um vandalismo desastroso (inclusive para os próprios autores).

12. Devemos lutar contra esse ambiente anti-democrático que se auto proclama como defesa da democracia, e exigir tranqüilidade e honestidade na discussão dos temas que realmente importam.

13. A bala de ouro, longe da associação vampirista da tal 'bala de prata' tão comentada durante a campanha - será a oportunidade de mobilização popular em defesa do espaço duramente conquistado. E atingirá apenas o modelo secular de um país sem povo.
(manifesto minha posição com a traquilidade de quem já foi eleitor de vários outros partidos, desde o tempo de Covas; de quem não depende de nenhuma benesse governamental e que escreve apenas como ato de consciência).

Paulo Costa Lima é compositor. Pesquisador pelo CNPq. Professor de composição da Universidade Federal da Bahia.

e-mail de Manoel de Jesus
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