Pesquisas de audiência da TV brasileira têm mostrado que novelas e documentários versando sobre temas ditos paranormais ou claramente espíritas alcançam altos índices de audiência. Observando a programação da Rede Globo, vê-se o Globo Repórter, que já exibiu diversas vezes reportagens especiais sobre mediunidade, curas espirituais, relação medicina/espiritualidade, vida de Chico Xavier, dentre outros, sempre alcançando grande audiência e algumas reprises. Já as novelas trazem, vez por outra, elementos da fenomenologia espírita, como personagens médiuns, alguns videntes ou o drama das obsessões. Exemplo clássico na teledramaturgia foi "A Viagem", de Ivani Ribeiro, veiculada pela Rede Tupi, entre 1975-1976, regravada e levada ao ar pela Rede Globo em 1994, diversas vezes reprisada. Com menor impacto, mas com grande audiência e reprise, também despontou "Alma gêmea", de Walcyr Carrasco, 2005-2006. Por último, com audiência espetacular às seis da tarde, temos "Escrito nas estrelas", de Elizabeth Dhin. Vê-se, com isso, que o brasileiro usufrui bem e valoriza a cultura espírita veiculada pela TV, como já tem feito no consumo da vasta literatura espírita. A grande audiência das novelas claramente centradas no Espiritismo demonstra o quanto a cultura brasileira é afeita à espiritualidade, não admitindo fechar-se no dogmatismo das instituições religiosas. Embora o catolicismo esteja sempre presente nas novelas brasileiras, compondo os rituais cotidianos com seus tradicionais sacramentos e liturgias, nota-se na grande aceitação das novelas espíritas que o brasileiro afina-se com os intercâmbios espirituais da mediunidade, seja no plano das curas espirituais, seja na busca do consolo esclarecido na perda dos entes amados. Nesse processo, muitas vezes inconsciente, configura-se o enriquecimento dos nossos valores religiosos.
Portanto, quando estão de olho na telinha apreendendo elementos da ciência, da filosofia e da moral espírita, os brasileiros estão revisitando os fundamentos implícitos de nossa histórica religiosidade mestiça e sincrética.
Marcos José Diniz Silva - historiador e professor da Uece
SEÇÃO IDEIAS
Fonte: Diário do Nordeste de 12 de outubro de 2010.
Pauta de Fernando Machado
