Os alfaiates e o rei
"Reinado, após reinado o desfile se repete... É assim desde que Bruzundanga caiu nas mãos e vícios dos homens brancos e de 'sangue bom'. A ganância alimentada pela fogueira das vaidades mundanas faz crescer a mediocridade de atos e comportamentos, tanto da nobreza doutoral, como também da nobreza de palpite. Com raríssimas exceções, em todos os segmentos sociais se reflete e se repete os atos e costumes dos 'nobres'. Raros, ou melhor, raríssimos, são os elementos que se punham a questionar. Mas... Eu disse, mas... Há uma criança inocente sentada nesta arena... Do 'baixo' de sua inocência vem década após década questionando a si mesma...
-Como tudo isso é possível?
Questionando a si mesma já que não pode questionar a mais ninguém, ela está ano após ano vivendo de interrogações... Cresceu vendo aquilo tudo... De criança, passou pela adolescência... Se fez jovem e está adulta... Agora sim, quase sem esperanças, já que na fita métrica do tempo seu passado é maior que seu futuro, ela devaneia...
Reinados já se passaram... Os nobres de agora, que a exemplo de todas as dinastias passadas fizeram os plebeus botarem suas carruagens na poeira prometendo novos trajes, novamente se vestem com o tecido dos 'sabidos'. E assim a vida passa em Bruzundanga. Enebriados... Uns pelo canto da sereia, outros pelo canto das 'hosanas' , uns tantos outros pelos aleluias e o restante pelo encantador e mundano cântico da caixa mágica no canto da sala não notam, ou se notam, para não parecerem indignos dos postos que ocupam ou que aspiram ocupar silenciam diante do espetáculo tragicômico enquanto a caravana passa. Neste instante a crescida criança não agüentando mais a indignação exclama:
-Nu!!! O Rei está nu!!!
Mas o intrigante disso tudo é que mesmo diante da gritaria da inocente criança alertando a todos; o povo, ao contrário da plebe de Hans Christian Andersen não reage e até silencia. Tenho dito... E sempre!!!
(MANUEL DE JESUS)
Fonte: Coreausiará
