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22/08/2010

A CARMÉLIA SUSPIROU E PARTIU

No dia 17 de agosto de 2010, terça-feira, pela manhã, uma infausta notícia consternou Coreaú. Maria do Carmo Gomes Ximenes, Carmélia, nascida na então vila da Palma, hoje Coreaú, na data de 27 de maio de 1921, aos 89 anos de idade, partiu sem retorno.

Ao tomar conhecimento do grande pesar que se abateu sobre Coreaú, embora pesaroso, lembrei-me de parafrasear a primeira estrofe da tradicional marchinha carnavalesca “Ó Jardineira” de Benedito Lacerda e Humberto Porto: “Ó jardineira porque estás tão triste/Mas o que foi que te aconteceu/Foi a camélia que caiu do galho/ Deu dois suspiros e depois morreu”, tão popular no meio palmense de outros tempos, para fazer a seguinte indagação:

- Ó Velha Palma porque estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu?
- Foi a Carmélia, que de tanta saudade, deu dois suspiros e depois morreu.

Palma, tua tristeza é perfeitamente compreensível. A Carmélia era uma das camélias, róseas flores, do teu jardim. Mas lembra-te que teus filhos são seres finitos que caminham para o infinito. Sugere a eles que reflitam sobre esta verdade bíblica, expressa no Livro da Sabedoria (Sb 2,2.5): “Um belo dia nascemos e, depois disso, seremos como se jamais tivéssemos sido! (...). A passagem de uma sombra: eis a nossa vida, (...).”

Diz Buarque de Holanda em seu famoso Dicionário Aurélio – Século XXI: “Camélia - Gênero de arbustos ou de pequenas árvores tropicais sempre-verdes da família das teáceas, com folhas alternas, brilhantes, elípticas e de pecíolo curto, e de flores alvas ou róseas.”

Mas a Carmélia, no universo das cores, tinha preferência pela cor azul. Assim, por muitos anos, pertenceu a Pia União das Filhas de Maria da Paróquia de Coreaú, cujo distintivo era uma fita azul com a medalha milagrosa. Nesta associação religiosa, em várias ocasiões, cantou, garbosamente, este refrão: “Eu prometi fiel serei./Eu prometi fiel serei,/sou filha de Maria.”

Nas festas de setembro de recuadas épocas, nas animadas quermesses, com a fidelidade que lhe era peculiar, usando o laço de fita azul, ela cantava com avultada vibração o hino do Partido Azul: “Nas campinas de esmeraldas/da feliz terra de Palma, fulgura o Partido Azul,/ fascinando a nossa alma. (...).”

Devota de Maria, a Mãe do Salvador, que em Coreaú é venerada com o título de Nossa Senhora da Piedade, tanto no período de 5 a 9 de setembro, em que se processa, anualmente, o novenário em honra da padroeira, quanto em outras oportunidades, ela cantava com todo entusiasmo este belo hino dedicado a Virgem da Piedade: “Ó Virgem da Piedade/Tesouro de salvação/Sois esperança dos crentes/Ó mãe de Consolação. (...).”

Essa figura tão popular, em Coreaú, gostava de política. Nas décadas de 1940 e 1950, era udenista. Participava das campanhas eleitorais com muito empenho e ardor. Para lembrar este tempo, registramos, aqui, um trecho da música da campanha de Paulo Sarasate ao Governo do Ceará, em 1954, pela União Democrática Nacional – UDN, que os udenistas palmenses, entre eles a Carmélia, cantaram durante a movimentação política desse acirrado pleito eleitoral: “Alerta cearense,/escuta a nossa convocação!/Votando em Sarasate,/na capital e em todo sertão./Para elegermos a três de outubro/nosso governador.” A UDN, na Palma de então, tinha o comando do Coronel Ximenes (Francisco Napoleão Ximenes).

Neste necrológio, merecem, ainda, serem destacadas duas importantes características dessa distinta criatura: uma ligada ao lazer, a outra a crença popular. Nos bailes dançantes, na mocidade, ela dançava da valsa à mazurca, do bolero ao xote, sem esquecer o frevo, o mambo e as marchinhas de carnaval. Quando alguém era acometido de quebranto ou mau-olhado, logo a Carmélia era chamada para rezar.

Por último, é lícito realçar que essa senhorita, como professora leiga do ensino elementar nas Escolas Reunidas de Coreaú, prestou relevante serviço à educação coreauense.

Carmélia, seus conterrâneos lamentam sua ausência física, mas sua memória permanecerá viva nos anais de Coreaú. Descanse em Paz!

Fortaleza, 18 de agosto de 2010
Leonardo Pildas
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