O universo palmense ficou mais pobre, perdeu um dos seus bastiões da alegria, da pândega e dos salutares gracejos. Perdeu mais, perdeu muito... Perdeu o baluarte do baile róseo, que fez história nos anos de 1950 e 1960. Vicente Gomes Ximenes, o Vicente Alfredo ou simplesmente o “Cheiroso”, era o rei dessa folgança.
Naquele tempo, reinava na comuna palmense, a Coreaú dos feitos oficiais, um triste expediente. A sociedade era dividida entre pardos e brancos. Esta inconcebível divisão valia, com certo rigor, para os seletos bailes dançantes tão frequentes em épocas passadas.
Entre junho e julho, período de animados folguedos, a comunidade coreauense, repartida em duas vertentes, programava bailes populares a base da chita, do róseo e das bandeirolas multicoloridas. O tom era de São João na Roça e o som de sanfona, acordeão ou harmônica. Na ausência destas, o metal da ‘cafuringa’ (leia-se Banda de Música Municipal) soprava dando cadência aos maviosos passos nos vastos salões, muitas vezes improvisados, enfeitados a gosto e encerados com cerífero da carnaúba.
A branca casta promovia o ruidoso chitão, por vezes no Salão Nobre da Prefeitura (a segunda) e de outras numa das salas das Escolas Reunidas.
O grupamento pardo engalanava a noite, com seu majestoso baile róseo nos salões do ‘Seu João Batista’, da ‘Sinuca’ e algumas vezes no Salão Nobre do Ginásio ou em uma das salas da Associação Rural. Era uma pomposa festa, onde o brilho e a animação suplantavam a esclerosada rigidez da norma social então vigente.
Neste contexto, duas estrelas destacavam-se, Vicente Alfredo e Antônia Malhada (Antônia Alves da Silva), juntos eles escreveram uma rica página nos anais da História de Coreaú. Ambos já habitam a esfera superior. Ela embarcou em março de 2004, ele neste alegre mês de junho de 2010.
A Palma, Vicente Alfredo, lembrando o inesquecível baile róseo que você tantas vezes promoveu para animá-la, hoje, vestiu-se de preto, chorando sua inesperada partida para o Reino da Esperança.
Vicente Gomes Ximenes, 13/8/1927 – 6/6/2010, diante desta realidade finita, sem gaguejar, proclame esta verdade bíblica escrita no Eclesiastes 3,20: “Todos caminham para o mesmo lugar. Todos saem do pó e para o pó voltam.” Descanse em paz, prezado conterrâneo.
Fortaleza, 6 de junho de 2010
Leonardo Pildas