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“Os chefes da Igreja foram com frequência narcisistas, amantes da
bajulação e influenciados negativamente pelos seus cortesãos. A corte é
a lepra do papado”, disse o Papa Francisco, numa entrevista ao diário
italiano La Repubblica, em que considera a Igreja Católica muito “vaticanocêntrica” .
As
declarações foram publicadas nesta terça-feira, dia em que começa um
conselho de cardeais que pode decidir reformas na Igreja.
A Cúria
– governo da Igreja – não é uma corte, mas encontram-se lá “cortesãos”,
afirma o Papa. Francisco adianta que fará o que estiver ao seu alcance
para mudar a mentalidade “vaticanocêntrica”. A Cúria centra-se muito
nos interesses do Vaticano que “são ainda em grande medida interesses
temporais”.
A entrevista é feita pelo fundador do La Repubblica,
Eugenio Scalfari, e segue-se a uma troca de correspondência, depois de
o jornalista ter manifestando ao Papa as razões do seu ateísmo.
Francisco revela que, por momentos, ponderou não aceitar a eleição para
liderar a Igreja, quando foi escolhido, em Março.
Falando sobre a
sua fé, o Papa afirma: “Não existe um Deus católico…Acredito em Jesus
Cristo, a sua encarnação. Jesus é o meu mestre e o meu pastor, mas
Deus, o pai …é a luz e o criador."
O Papa Bergoglio distingue
também clericalismo de cristianismo. “Não tem nada a ver com
cristianismo”, sublinha. “Acontece-me também a mim: se encontro um
clerical torno-me anticlerical.”
Francisco manifesta o
entendimento de que a Igreja deve relançar-se a partir do Concílio
Vaticano II e abrir-se à cultura moderna, participando nos grandes
debates da actualidade.
Os “males mais graves que afligem o
mundo” são, afirma, “o desemprego dos jovens e a solidão em que são
deixadas as pessoas idosas”. O “liberalismo selvagem” tem como
resultado “tornar os fortes mais fortes, os fracos mais fracos e os
excluídos mais excluídos”, diz também.
Público.pt