Somos apenas um ou muitos na mesma
estrutura física, mental e psicológica? Em verdade, constituímos um único ser.
Porém temos a capacidade de pensar, possuímos o grau da racionalidade. Por isso
nos diferenciamos dos demais entes vivos desse reino passageiro que habitamos.
Assim, fica confirmada a nossa unicidade no
que tange ao uso da razão. Mas a indagação inicial ainda não foi respondida.
Algo, interiormente, nos impulsiona para a multiformidade.
Ah! Porque pensamos, por vezes, parecemos
contraditórios tanto nas ações quanto no falar e no escrever. Em alguns
momentos, o nosso caráter polimorfo explode e nos comportamos como se
tivéssemos milhões de seres dentro de nós.
Nessa conjuntura, revelamos os muitos “eu”
que somos: o orgulhoso, o egoísta, o presunçoso, o ganancioso, o sabichão, o
dono da verdade, o senhor da lei, o aproveitador, o explorador, o tendencioso,
o vaidoso, o usurpador de direitos, o aético, o zombador, o fanfarrão, o
medíocre, o político interesseiro, o negociante desonesto, o vendedor de
ilusões e muitos outros desse naipe que desonra a condição de ser humano.
Todavia, há, também, aqueles que dignificam a criatura diante do Criador e, em
particular, no meio da comunidade, na qual se encontram inseridos: o solidário,
o ético, o ilibado, o servidor, o modesto, o realizador, o fomentador dos bons
princípios, o administrador público cônscio de seus deveres, o consciencioso, o
justo, o caridoso, o defensor das minorias, o cidadão, o responsável e outros
tantos dessa louvável casta.
O nosso “eu” deverá ser coletivo, capaz de
reconhecer no seu semelhante o poder pessoal e social
que lhes são inerentes. Enquanto não concorrermos para que seja, efetivamente, evidenciada
a necessidade de políticas públicas nas áreas da cultura, da educação, da
saúde, da moradia, do emprego, do meio ambiente que atinjam toda a população,
eliminando a desigualdade reinante, seremos pessoas exclusivistas, egoístas e
medíocres.
Os bens da terra,
as riquezas da natureza, o patrimônio público e os bons frutos da inteligência
e do labor humanos pertencem a todos indistintamente. Isto já foi dito por
muitos. Quando alcançarmos esta verdade, seremos então um ser, digo, um “eu”
coletivo.
Fortaleza, 19 de junho de
2011.
Leonardo Pildas
Nota Bene: Embora este
texto tenha sido escrito na data grafada, ele continua atual porque aborda as
limitações do ser humano frente à partilha dos bens ofertados graciosamente pela
mãe terra e sua aliada a sempre dadivosa natureza.