“A vida é o mar, o barco somos nós...”, escreveu um poeta
nas linhas de um poema musicado. Quão
grande metáfora a sintetizar a vida humana: o mar e o barco. Este simbolizando
a nossa fragilidade, aquele a nossa ignota estrada terrena.
Na riqueza
romântica do poeta, nessa alegoria, salta, também, outra bela figura de
linguagem, uma significante antítese. O limitado ser humano contempla o mar com
seus mistérios, profundidade, largueza e perigos, considerando a agitada e
longa travessia que lhe é dada por sentença logo ao nascer.
Que desafiador
percurso para quem dispõe de poucas forças, um pequeno barco, homem ou mulher,
tendo como timoneiro um coração devaneador e como bússola uma mente às vezes
não muito exercitada e de outras, um tanto desvairada? O que fazer diante da
impetuosidade das ondas, da intensidade das tormentas, das ciladas da sereia
sonhadora, dos arrufos dos piratas, dos desvios de rotas...? Como se portar
frente à solidão das águas, tendo apenas como companheiros de viagem o firmamento,
a luz do sol, o brilho da lua e das estrelas..., e o arrufar de assas de
dispersas aves marinhas? O tempo, astuto
professor de moços e velhos, nos ensinará vencer as intemperes da longa
maratona.
Começamos a
navegar, em tenra idade, numa fragilíssima jangada, a infância colorida e fantasiosa, largada aos ventos da esperança.
Depois, surge ridente e, por vezes, absorta, mas sempre encrespada pelos
sonhos, a lancha de dois tempos: a adolescência e a juventude, enfeixada no
termo mocidade com suas incitantes
surpresas, prazerosas descobertas e frustrantes interrogações. De repente, nos
damos conta que já singramos muitas milhas. Estamos em alto mar. Eis que, em
cores suaves, se apresenta sorrateira a nau maturidade, repleta de feitos, decepções e conquistas. Resta-nos a última etapa da movimentada
travessia. Para tanto, sem delongas, embarcarmos na corveta ‘melhor idade’, o pomposo eufemismo
dado à velhice, completando, assim, o
ciclo das estações biológicas.
Ao atingirmos a
idade provecta, a vida, aqui, simbolizada pelo mar, apesar de suas costumeiras
procelas, mostra-se um pouco mais amena, vicejando saudades e lembranças dos
fulgores de outras épocas. Somos outra vez crianças, não mais peraltas como
dantes, mas blindados por um discreto entusiasmo, exibimos experiência e
sabedoria, que formam o estandarte da honrosa ancianidade. Isto nos conforta!
Fortaleza, 17 de
junho de 2012
Leonardo Pildas